sexta-feira, 8 de maio de 2009

Para um deficiente motor, um degrau faz a diferença, mas os autarcas das nossas Cidades e Freguesias não percebem isso.

(A sensibilização dos autarcas para a eliminação das barreiras arquitectónicas passa por eles autarcas, fazerem o que estes alunos do 12º ano da Maia fizeram, sentarem-se numa cadeira de rodas e fazerem um trajecto pela Cidade, ai iriam respeitar mais os deficientes e as pessoas com mobilidade reduzida e que lutam por melhores condições de acessibilidades para todos).

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(informaçao ao Sr. Presidente).

Exmo. Presidente da Câmara Municipal da Maia

Data: 8 de Maio de 2009

Exmo. Sr. Presidente Eng. Bragança Fernandes
No dia 24 de Abril enviei a V. Exa. um Mail dando conhecimento do que se tinha passado na visita de estudo de um grupo de alunos do 12ª de uma escola da Maia.
do mesmo mail não houve resposta de retorno.

Possivelmente o mail nem chegou ás mãos do Sr. Presidente, espero que este chegue e sirva de reflexão.

É bem presente a indignação que estes alunos sentiram por haver tantas barreiras nos passeios e por lhes ser negado a visita á entrada da sala onde se realizam as assembleias municipais.

Eles alunos mostram bem que não são alunos de pré-escola, mas sim alunos do 12ª, ano responsáveis, sabem ver o que esta mal e dar as notas adequadas aos responsáveis pela não eliminação das barreiras arquitectónicas na Maia.

os meus cumprimentos
João Couto Lopes

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RESPOSTA (TEXTO COMPLETO)
DOS ALUNOS, 12º ano escola secundaria da Maia..

Estimado Senhor João Couto Lopes,

Sinceramente, nem sabemos como agradecer o seu contributo para o trabalho. Mais que isso, é um verdadeiro exemplo de força para nós, um exemplo que ilustra que "nada é impossível", um exemplo que nos enche de orgulho, como cidadãos jovens que depositam uma esperança enorme no futuro... E permita-nos que discordemos quando diz que nós somos o futuro porque o Senhor João ao lutar no presente, está a construir um futuro melhor e a legar exemplos que nós iremos aplicar no nosso futuro.
No dia 23 de Abril realizámos o percurso de cadeira de rodas pela Maia e, mais do que um simples trabalho, foi extremamente enriquecedor do ponto de vista pessoal.

Permitam-me (o Senhor João e o meu grupo) que agora, eu, Ana Camacho, fale um bocadinho. Primeiro, queria agradecer por ter-se lembrado do meu aniversário, foi extremamente simpático e atencioso da sua parte. Fiquei muito contente com a sua lembrança, são pequenos gestos que significam muito.

No dia 23 de Abril, propus-me, então, a andar de cadeira de rodas pela Maia (com a ajuda indispensável dos restantes elementos do meu grupo) com o objectivo de detectar as barreiras arquitectónicas existentes na Maia e compreender, verdadeiramente, o que é ser um cidadão com mobilidade reduzida/deficiências motoras. Pois bem, eu sabia que ia ser difícil mas nunca pensei que fosse tão difícil. Já me tinha apercebido que a Maia tinha muitos obstáculos que dificultam a autonomia e a normalidade da vida de um cidadão com deficiências motoras, mas nunca imaginei que os obstáculos fossem tantos... E por conseguinte, a falta de respeito é muito já que se houvesse o mesmo, estas situações não aconteciam. Como é possível serem inúmeras as rampas com inclinação que infringe a lei? Acho que não encontrei uma única passadeira com uma rampa adequada... Fiquei bastante frustrada e, sempre que recordo a experiência, sinto-me indignada. Indignada por todos aqueles que são, de facto, cidadãos com deficiências motoras. Antes de realizar o percurso, delineei alguns obstáculos arquitectónicos que ia encontrar e... encontrei muitos mais. É verdadeiramente inconcebível que estas coisas aconteçam... no século XXI. Não há desculpas possíveis. Andar numa cadeira de rodas, já por si, é extremamente difícil, se acrescentarmos obstáculos arquitectónicos, torna-se uma missão praticamente impossível. Fiquei ainda mais (eu e o meu grupo, obviamente) sensibilizada para esta causa que todas as pessoas deviam respeitar. Mais, que tal se todos os cidadãos experimentassem andar de cadeira de rodas? Neste caso, podiam entender as dificuldades que um cidadão com deficiências motoras enfrenta... Podiam aumentar a sua compreensão, sensibilidade e respeito para com estes cidadãos IGUAIS A TODOS OS OUTROS. Como o Senhor João pôde constatar, tive imensas dificuldades na totalidade do percurso: não consegui subir rampas sozinha (e mesmo com a ajuda de uma pessoa era difícil), pelo que não tinha autonomia; fiquei com as mãos em péssimo estado; fiquei cansada (física e mentalmente por perceber que há pessoas que têm de enfrentar isto todos os dias quando eu só tive que fazê-lo apenas umas horas); fiquei triste quando as pessoas olhavam fixamente para mim; mas, acima de tudo, percebi (muito infimamente) o que é ser um cidadão com deficiências motoras. E acredite que cheguei a casa com um milhão de perguntas a voar na minha cabeça, desiludida com o desrespeito bem patente nos obstáculos arquitectónicos. Coisas tão simples como descer uma rampa a pé, tornam-se num pesado para os cidadãos com deficiências motoras. Se não existem rampas, temos de percorrer um percurso alternativo enorme, se existem não se adequam à lei... Não entendo como são concebíveis estas situações. Temos de mudar isto, temos mesmo. Sabe, Senhor João, fui a Paris nas férias da Páscoa e lembro-me que lá as rampas das passadeiras eram rebaixadas. Se isto é possível em Paris, porque é que não é aqui também? Nem tudo estará bem em Paris, certamente... Mas o exagero de obstáculos arquitectónicos aqui torna-se até ridículo, desculpe a expressão. Esta experiência foi muito importante para mim. Finalmente e de forma muito pequena (tenho consciência), fiquei a perceber o que é não ter autonomia. Pode-se ser mentalmente muito forte, mas para ultrapassar as barreiras também é precisa muita força física. A minha e a nossa admiração por si redobrou-se. Nunca deixe de lutar, Senhor João, por si e por todos nós. Desculpe a falta de parágrafos mas foi um desabafo espontâneo.

Agradecemos ao Senhor João o e-mail que enviou ao Presidente da Câmara da Maia, demonstrando o seu e o nosso desagrado relativamente à não permissão para observarmos os passeios e acessos à sala onde se realizam as Assembleias Municipais. Resta-nos acreditar que o Presidente estava, de facto, numa reunião...

Queríamos ainda informar que a data provável da nossa apresentação será no dia 29 de Abril, pelas 21h30, e é escusado dizer que a sua presença é indispensável para nós (esperamos que esteja disponível). Infelizmente, não vamos conseguir realizar a apresentação no Fórum da Maia nem no Fórum Jovem devido à falta de datas, pelo que terá de ser na nossa escola. Depois enviamos mais informações.

Muito obrigada pelo contributo e, acima de tudo, pelo exemplo inspirador.
Alunos do 12º ano

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